Tendência de alta de juros pode frear expansão da habitação e infraestrutura brasileiras
O desempenho positivo da economia no segundo trimestre desencadeou uma ampla discussão sobre a necessidade de se aumentar a taxa de juros na reta final de 2024. A avaliação é de que ajustar a Selic contribuiria para a contenção de um potencial incremento da inflação do país. Ainda que legítima e necessária essa discussão preocupa a indústria da construção: empresários de todos os segmentos do setor esperam a manutenção, ou redução, da taxa como estímulo ao ciclo virtuoso confirmado pelos últimos indicadores.
O setor da construção, após registrar queda de 0,5% em suas atividades em 2023, vive momento de reaquecimento, com impacto positivo sobre a economia como um todo. No segundo trimestre de 2024, na comparação com os primeiros três meses do ano, dados do IBGE demonstraram que o PIB do setor cresceu 3,5%, sendo um dos destaques dos resultados do período. Esse desempenho positivo é traduzido na forte geração de novos postos de trabalho com carteira assinada.
Dados do Novo Caged, divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego demonstram que nos primeiros sete meses do ano, o setor criou mais de 200 mil novos postos de trabalho em todo o País. Isso significa que a Construção, neste período, foi responsável por 13,42% do total dos novos empregos gerados por todas as atividades. Também de acordo com dados do Novo Caged, o salário de admissão no setor é superior ao da média geral e um dos maiores observados, quando se analisa os segmentos da economia.
Diante desse cenário, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) reviu para cima suas projeções de crescimento do PIB do setor de 2,3% para 3% em 2024. Juros altos são nocivos para a atividade produtiva, pois podem redirecionar investimentos que geram emprego e renda para o mercado financeiro. A entidade avalia que o aumento da taxa Selic pode prejudicar o ciclo de novos investimentos que vem sendo observado na construção, impondo ao empreendedor uma cautela maior na tomada de decisões, o que corresponde a um adiamento ou até mesmo o cancelamento de novos investimentos. Esse movimento terá impacto na economia, na medida em que poderá reduzir a geração de novos empregos.
Além disso, a atividade do setor da construção aquece diversos outros segmentos econômicos, cujos produtos e serviços estão a ela associados, como material de construção, movelaria, linha branca e decoração entre outros. Uma mudança nas taxas de juros pode esfriar o setor, contribuindo para a redução de atividade da economia.
A CBIC, vocalizando a preocupação de seus associados, entende que o crescimento econômico sustentado da economia brasileira só acontece com o incremento dos investimentos. O custo excessivo do crédito com uma alta taxa de juros e com spreads bancários elevados em nada contribui para sustentar o desenvolvimento nacional. O Brasil não pode caminhar na contramão do mundo. Enquanto outros países vislumbram a redução dos seus juros o Brasil está na direção contrária, com projeções de mais aperto monetário.
O estímulo a melhoria do ambiente de negócios e também ao crescimento da produtividade pode incentivar o investimento produtivo. Essa deve ser uma prioridade a ser perseguida com todos os instrumentos disponíveis. Só assim o País construirá as bases sólidas para o seu desenvolvimento sustentado. O setor da construção tem ampla contribuição a dar nesse esforço, pela geração de emprego e renda, pela realização de obras que imprimirão maior produtividade e competitividade à economia. (Fonte: CBIC HOJE)