Lançamentos de imóveis caem 17,8% em um ano no Brasil
A alta nos preços dos materiais de construção e o desabastecimento ameaçam o mercado imobiliário. O setor encerrou 2020 com uma queda de 17,8% no número de lançamentos, na comparação com 2019. No mesmo período, o número de imóveis novos (apartamentos) vendidos subiu 9,8%. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), empreendimentos correm risco de paralisação em função das incertezas causadas pelos aumentos e pela falta de insumos.
Sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC mostrou que o principal problema enfrentado por empresários do setor no 4º trimestre de 2020 foi a falta ou o alto custo de matéria-prima, com 50,8% das assinalações. De acordo com dados da Fundação Getulio Vargas, a alta nos preços dos materiais em 2020 foi de 19,60%, a maior do período pós-real. Alguns insumos chegaram a registrar aumentos superiores a 50% no período.
O impacto já foi sentido em números do programa Casa Verde e Amarela, segmento mais afetado pelos aumentos, em função de suas margens, que são menores, e por possuir teto para contratação. A representatividade do programa sobre o total de lançamentos no 4º trimestre de 2020 foi de 47,1%. Sobre o total de vendas, essa participação foi de 48,6%. No 3º trimestre de 2020, a representatividade foi de 54,7% e 53,0%, respectivamente.
Os dados fazem parte do estudo Indicadores Imobiliários Nacionais do 4º trimestre de 2020. Realizado desde 2016 pela CBIC e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, o trabalho foi divulgado durante coletiva de imprensa online nesta segunda-feira (22/02). Foram coletadas informações de 150 municípios, sendo 20 capitais, de Norte a Sul do Brasil. As cidades foram analisadas individualmente ou dentro das respectivas regiões metropolitanas.
Apesar dos financiamentos imobiliários terem atingido recorde histórico em 2020 (R$ 177 bilhões), com recursos da poupança (SBPE) crescendo 58%, os financiamentos via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) caíram 5% no mesmo período.
Lançamentos
Em relação ao 3º trimestre de 2020, os lançamentos no 4º trimestre subiram 33,2%. O resultado foi positivo em todas as regiões, à exceção do Centro-Oeste, onde houve queda de 22,4% no número de unidades lançadas. O maior aumento foi observado na região Sudeste, onde o número de lançamentos subiu 49,4%, seguida pelo Sul, onde houve aumento de 46,7% nas unidades lançadas.
Na comparação com o 4º trimestre de 2019, porém, os lançamentos de imóveis (61.274 unidades) no 4º trimestre de 2020 apresentaram uma queda de 7,1%. Houve redução no número de unidades lançadas nas regiões Sul (-28,9%) e Sudeste (-9,3%) e aumento nas demais regiões. O maior aumento foi observado na região Norte (760 unidades), com 64,8% mais lançamentos que no 4º trimestre de 2019.
No comparativo de lançamentos entre 2020 (151.782 unidades) e 2019 (184.761 unidades), houve queda geral de 17,8%. A maior variação negativa foi observada na região Sul, com 10.925 unidades a menos ou 32,7% menos lançamentos em 2020, na comparação com 2019. A maior variação positiva foi observada na região Centro-Oeste, com 3.015 unidades a mais ou 24,7% mais lançamentos em 2020, na comparação com 2019.
Vendas
No país todo, as vendas apresentaram um aumento de 3,9% no 4º trimestre de 2020, na comparação com o trimestre anterior. O maior aumento foi observado no Sul, onde as vendas de imóveis subiram 12,9% (1.238 unidades) no 4º trimestre. No Sudeste, o aumento foi de 7,6% (2.204 unidades) no período. A maior variação negativa ocorreu no Centro-Oeste, onde as vendas caíram 12,6% (631 unidades).
Na comparação entre o 4º trimestre de 2020 e o mesmo período de 2019, as vendas subiram 6,7% e apresentaram resultado positivo em todas as regiões, à exceção da região Sudeste, onde caíram 9,0% (3.101 unidades).
No acumulado do ano, houve aumento de 9,8% (16.955 unidades) no número de unidades vendidas em todo o país em 2020, na comparação com 2019. Novamente, o resultado foi positivo em todas as regiões, à exceção do Sudeste, onde as vendas caíram 2,2%. A maior variação foi observada no Norte, com aumento de 50,1% no número de unidades vendidas, seguido do Nordeste, com aumento de 49,7%.
A oferta final de imóveis no 4º trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019, apresentou uma queda de 12,3%. Na comparação com o 3º trimestre de 2020, a oferta final subiu 4,8% no 4º trimestre.
Casa Verde e Amarela
O estudo Indicadores Imobiliários Nacionais do 4º Trimestre de 2020 também analisou a participação do programa habitacional Casa Verde e Amarela (CVA) nas unidades lançadas e vendidas e também na oferta final de imóveis, em todas as regiões brasileiras. A representatividade do CVA sobre o total de lançamentos, no trimestre, foi de 47,1%. Sobre o total de vendas, essa participação foi de 48,6%. Na oferta final, o número de imóveis do CVA representou 45,3% do total.
É a primeira vez, desde que o levantamento começou a ser realizado, que a participação do CVA sobre o total de imóveis lançados e vendido fica abaixo de 50%. De acordo com o vice-presidente da área de Indústria Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci, será necessário avaliar se os empresários que trabalham com o programa terão o mesmo apetite de construção diante dos desafios impostos pela alta nos preços dos materiais de construção. “Nós estamos associando essa redução, principalmente em relação ao 3º trimestre de 2020, às dúvidas do empresário em relação aos preços dos insumos, e não à falta de recursos”, explica.
Consumidores
Durante a coletiva de imprensa, também foram apresentados os resultados de uma pesquisa avaliando a intenção de compra de imóveis por parte dos consumidores brasileiros. De acordo com o estudo, que contou com 1.200 participantes, essa intenção caiu 11% em fevereiro, na comparação com outubro, data do último levantamento.
Para Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain Inteligência Estratégica, 41% das famílias têm intenção de compra, o que mostra que o consumidor está na busca pelo imóvel. Antes da pandemia, esse valor era de 43%. “No entanto, pode ser que haja um descompasso entre o que as incorporadoras vão produzir e o apetite de compra de quem ganha entre R$ 2,5 mil e R$ 4,5 mil”, alerta.